À Flor da pele

Uma composição entre rascunhos, mensagens, intervalos e retomadas, descrevemos modos de fazer diálogos sobre o cansaço, o atropelo cotidiano, e ESTADOS A FLOR DA PELE. Um resumo dos diálogos e correspondências entre amigos interessados na multiplicação de modos de viver mais conectados com a vida. Durante a escrita deste texto, aos poucos percebemos que estados de pouca fluência não são necessariamente estados de fraqueza, mas brechas para aprofundar o que vivemos e sentimos.

 Fragmentos de correspondências entre eu Glauco e Nide, pedagoga e plantadora de orgânicos, que aceitou escrever e publicar um recorte de nossas conversas e investigações sobre os ESTADOS SENSÍVEIS VIVIDOS NO CORPO, em especial neste momento diante à situação de isolamento social e pandemia, uma conversa despretensiosa, mas com muita vontade de acolher e entender os estados do corpo que ainda não conseguimos descrever  que portanto temos pouca ou quase nenhum domínio sobre eles. Apenas a certeza que o mundo não voltará a ser o mesmo.

Durante a escrita deste texto, aos poucos percebemos que estados de pouca fluência não são necessariamente estados de fraqueza, mas brechas para aprofundar o que vivemos e sentimos.  Durante o processo entre leituras, rascunhos, mensagens, intervalos e retomadas descobrimos que este seria um texto de diálogos sobre o cansaço, o atropelo cotidiano, o ESTADO À FLOR DA PELE, sobre nossa vontade de encontrar nas palavras as alianças para se viver em grupo e em estado de amizade, ferramentas para compartilhar modos de viver, de expressar COMO estamos vivendo com o objetivo de multiplicar as performances cada vez mais vinculados com a vida e menos submetidos ao mundo corporativo e pobre de sentidos. Fizemos uso de alguns conceitos de maneira que nos permitiu olhar para a natureza dos nossos comportamentos e como vemos todas as coisas vivas neste planeta, estados adaptativos de formação continuada do corpo e de sensibilidades, de nossa enorme capacidade criativa metabólica de processar ambientes e de nossa incansável vontade de composição e colaboração coletiva nos ambientes de pertencimento.

O que é ESTAR A FLOR DA PELE?
Na extremidade do corpo está pele, o nosso maior órgão é uma linha entre ambiente interno e o externo, é matéria viva feita das relações com a temperatura, com texturas, arrepios e porosidades. É o registro vivo dos encontros, é a anatomia do “entre” é uma borda porosa e elástica que desenha singularidades, individualidades e memórias dos acontecimentos”

Glauco:

A flor é o órgão reprodutivo das plantas a função primordial das flores é reproduzir ainda mais vida, se fazendo entre as cores e formas novas composições; com abelhas, pássaros e um enorme número de outros animais, em especial nós humanos.

Acredito que as flores são belos comportamentos de afirmação da vida em sua diversidade de composições, estão entre bichos e plantas criando ambiente de sensibilidades, produzem e multiplicam sensações, cores e excitações, servem reinos de diferentes naturezas porque produzem através de cores e formas exuberantes, sentimentos de diferentes ordens; são atraentes, cheirosas e provocam apetite e muitas vezes escandalizam olhares de pudor.

Minha já falecida avó gostava muito de flores escandalosas, desta que enchem a casa de alegria, cheiro e abelhas, dedicou sua vida à imitar a potência delas, plantando ou confeccionando artesanalmente com tecido engomado. Ainda sinto o gosto e cheiro bom do seu quintal, ainda posso ver seu sorriso atraente e sedutor, casou-se sete ou oito vezes, não me lembro ao certo, mas sei que todas as vezes foi de maneira apaixonada e feliz com um novo encontro. Penso que minha avó viveu como as flores vivem; excitada com os bons encontros, aqueles que se animam com o arrepio que dá na pele.

Creio que estamos neste mesmo momento de composição diante da pandemia e que precisamos de outras formas e sensibilidades para continuarmos vivos, não basta reproduzir, teremos que inventar novas formas e comportamentos e para isso será necessário observar como fazem todas as coisas que se afirmam por sua capacidade de compor, imitar e de se diferenciar. Nosso cansaço é do igual e do impotente diante a vida, são hábitos, estéticas, modos de viver e se relacionar que já cansou toda nossa beleza. 

Entendo ser urgente aprendermos com os CORPOS e COREOGRAFIAS femininas, tal como a das flores, afirmar nossos comportamentos por sua capacidade de conduzir afetos, fazer dobras sobre si, gerar mundos e diálogos mais generosos conosco e com os ambientes. É assim que penso sobre as flores; são como corpos femininos e com capacidade de multiplicar o que realmente afirma a vida nesse planeta.

Paul Valéry um poeta e professor francês afirma que “o mais profundo é a pele” é o que alcança a profundidade de sentidos e em permanente relação com o fora e com outros corpos na mesma condição.

Para mim, estar “a flor da pele” é estar presente nesta linha tênue em que tudo pode acontecer sem o controle racional dos sentidos, é estar próximo do choro, do sorriso e das paixões, é estar no risco de acontecer em função dos sentidos da vida em nosso CORPO, ser passagem e não retensão, ser acontecimento e não projeção idealizada, criação e não crença, estar vivo e vivendo no presente dos acontecimentos.

Estar à flor da pele é uma expressão assertiva pra descrever estados de intensa sensibilidade com as coisas a nossa volta, com o aumento de porosidade nas relações, com o toque, com o que nos esbarra ou com que ela absorve.

Nide:

Entendo a pele como uma película protetora dos nervos,carne, músculo e vestimenta da alma, tem poderosa tecnologias de sensores que ninguém do mundo das invenções tecnológicas ainda conseguiu igualar,esses sensores mantém o sistema em alerta e e em equilíbrio, caso algo errado internamente ocorre,  envia avisos, como por exemplo a febre para sua pele, ou também se externamente houver perigo, exemplo são as sensações térmicas: frio= arrepio,hipotermia e mal-estar, poucas pessoas conseguem dormir “com pé frio”
calor= suor,fadiga hipertemia. Regular= conforto térmico e conseguimos relaxamento corporal. 

 O poeta português Luís Vaz de Camões
em seu Soneto diz “o amor é o fogo que arde sem queimar” esse fogo é uma confusão sistemica que gera um calor inexplicável que arde e enrubesce a pele, nesse caso o calor da paixão é um sentimento à Flor da Pele.

Assim como nossa pele tem muitas camadas,  a flor também é cheia de delicados detalhes em seu processo de transição, até surgir às pétalas para ser admirada e amada a flor alegra os olhares e enternece os corações. Todas essas camadas estão intrinsecamente ligadas,assim como a pele e a flor  nossa vida tem minuciosas camadas que devemos nos atentar nos processos e dinâmicas da vida, pois temos que ser generosos conosco e suavizar ao externar os nossos  sentimentos, quando mostrarmos nossas emoções, nossos medos mais íntimos, nossa raiva mais potente, nossas dores e alegrias, as esperanças, as incertezas,os nossos POR QUES, os nossos QUANDOS e o nossos COMOS.

Vivemos tempos líquidos  e muitas  vivencias intensas no mesmo período. Há ocasiões que  a falta de empatia ou a indiferença com a vida que ofendem e  acirram ânimos e não nos permitem uma aproximação para acertos com cordialidade. Também temos que aprender a lidar com empatia as questões das outras pessoas e esses tempos vividos atualmente, facilitam o estresse com as dúvidas do que será o amanhã? 

Pode ser que esse período seja a “do por quê” das invenções, de significar e resignificar A VIDA,pois  Sentimos na pele diariamente as asperezas e parece que temos que ter muitas camadas de pele ou colar e recolar constantemente para sobreviver as incoerências e incertezas,  porque o mundo estar à flor da pele.
“Somos feitos de carne, Mas temos que viver como se fôssemos de Ferro” Sigmund Freud.

Autor: correspondente|psi

psicólogo

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